Os quilates e o brilho inoxidável

Ilustração Lua Castilho

A tradição dos jornais literários, que reivindicamos como a nossa, tanto pelo vigor da expressão como pela esperança de renovação – tentaremos desmenti-la, porém, em dois pontos. Deixaremos de lado os manifestos, as propostas atrevidas e sedutoras, o anúncio de revoluções nas artes. E tentaremos durar, pela utilidade e pelo serviço. Durar muitos anos sem escândalo, como a Volkswagen, o Estadão e a noblesse de robe do Judiciário.

Melhor também ir direto ao ponto antes que os leitores se impacientem. Esta Querela promete apenas uma concentrada atenção à nova criação poética e à prosa nova do lugar. Se possível, com boa dose de jornalismo, entendido como testemunho e arquitetura da informação.

Vamos pautar aqui e ali os lançamentos, com reportagens acompanhadas ou não de resenhas. Aliás, a resenha literária bem pode ser um recurso importante no mapeamento da tradição, além de oferecer ao novo autor ou à obra nova o reconhecimento inaugural que tanta falta faz, às vezes, na província como na metrópole. Terá por isso um tratamento cuidadoso nas edições da Querela. E virá a compor, cumulativamente, um Banco de Resenhas.

Seremos pobres mas orgulhosos banqueiros… de resenhas.

Cabem ainda na pauta de Querela os perfis de escritores e poetas. O monitoramento do mercado do livro. A pesquisa sobre o design e a produção gráfica, a história do livro e da tipografia. Os textos de referência sobre a Capital e o Estado. As ofertas de cursos e concursos ligados à área. O acompanhamento das teses e dissertações. E brevemente um caderno de anúncios classificados.

Tentaremos realizar o velho e ultrapassado ideal da objetividade na reportagem das letras. Como em tantas outras atividades, também aqui a convenção bem feita parece-nos mais revolucionária do que os gestos mais heterodoxos e as proclamações mais audaciosas. Aí vale toda uma outra discussão.

Não à toa, Querela tentará cumprir o programa ínsito ao nome, abrigando os eventuais debates que acontecerem nas letras do lugar. Qual lugar? Para começo de conversa, a produção literária em Curitiba e, até onde conseguirmos captar as nuances e as variedades locais, a criação literária de outras importantes cidades do Paraná. Londrina, o mais óbvio exemplo, tem hoje uma literatura de fazer inveja a muitos centros urbanos do Brasil e de outros países. Acompanharemos com amoroso interesse as novidades que vêm de lá.

A qualidade de atual, em nossa autodescrição – espaço das letras atuais – além do compromisso de registrar as novidades, traz a convicção de que também a obra de arte criada em outras épocas pode ser, em nossos dias, perfeitamente atual.

À guisa de declaração de princípios, tentaremos não complicar o que pede simplicidade. Acreditamos que o confronto de ideias deve ser acolhido e estimulado. Tentaremos trabalhar sem rancor nem prevenção, reservando o mesmo tratamento respeitoso a todos, sejam amigos ou desconhecidos, aliados e apoiadores do projeto ou desafetos e adversários. Para cada um, cultivaremos a ‘rosa blanca’ do poema.

Todas as nossas intenções se resumem na vontade de levar um grão de areia à construção, entre nós, de um campo literário bem organizado, dotado das instâncias de recepção da obra nova, do novo autor, e atento à sua integração na tradição. Queremos ser uma boa notícia para as letras do Paraná.

Somente a malícia e a maldade, a impostura e a falsidade, devem provar dos quilates e do brilho inoxidável da nossa espadinha de samurai.

Estaremos arraigados nas Araucárias e atentos aos quatro cantos. 

Boa leitura a todos. 

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