O Banco de Resenhas será uma ferramenta de professores e estudantes no estudo das letras do Paraná. E deve servir também para que tenhamos a ideia clara de quem somos na hora de escolher, aceitar e promover as trocas culturais.

O projeto de um Banco de Resenhas difere da simples reunião das resenhas em um só lugar pela intenção e propósito de realizar aos poucos, na linha do tempo, o inventário e o mapeamento do que se escreveu e escreve, entre nós, desde as origens históricas da sociedade paranaense.

O mapeamento das letras da terra mediante resenhas nada tem de ufanista. Trata-se de conhecer a produção da província, em primeiro lugar, e de tomar a medida o mais possível exata do conjunto dos nossos escritores e seus escritos, situando-os, sempre que possível, no contexto mais amplo das correntes literárias nacionais e intercontinentais.

As premissas são modestas. Muita coisa das letras locais carece de valor propriamente literário, sobre isso não nos iludimos. Mas a convicção de que nessa massa de escritos brilham, às vezes ocultos, textos de alto valor, rege todo o projeto. E mesmo os cometimentos mais modestos podem trazer o testemunho de outros tempos e neste sentido podem servir como documentos aproveitáveis para o estudo social.

A idéia é chegar a uma resenha, no mínimo, para cada livro trazido à luz nas Araucárias, num processo necessariamente gradual e por agregação, a desdobrar-se na linha do tempo, e a envolver um número ainda incógnito de colaboradores. O levantamento exaustivo há de ser obra de gerações.

A resenha nos parece um excelente recurso para alcançarmos essa finalidade, seja como atalho para o conhecimento das características até mesmo físicas da obra (em volume nem sempre acessível ou disponível), seja como aferição de suas eventuais qualidades literárias.
Desde logo, enxergamos resenhas de duas espécies. Aquela meramente descritiva, que se abstém de julgar o mérito literário e trata estritamente de constatar o tema, os objetos imediatos, a trama, a estrutura do conjunto do trabalho com apoio no índice, a linguagem adotada, e também o objeto gráfico, formando algo como uma ficha bibliográfica expandida. A segunda espécie podemos chamar de resenha de avaliação.

A resenha de avaliação opera com outra complexidade, e além de reconhecer, com base nos dados oferecidos pela descrição, as feições não-estéticas, digamos documentais da obra, trata de estimá-la pelo seu valor como realização artística, merecedora de ingressar no conceito de obra-de-arte. Estamos já no território da crítica, com todas as suas escolas e querelas. Naturalmente, cabem nesta modalidade as considerações sobre o lugar da obra no conjunto dos trabalhos do autor ou autora, bem como seu lugar nas correntes do tempo.
Também as resenhas já publicadas em outros espaços poderão ser incluídas no BdR, com a devida autorização de autores e editores. Além disso, a descrição da obra pelo próprio autor será admitida com os mesmos foros de legitimidade, no que podemos denominar a auto-resenha, condicionada apenas ao formato prescrito, a ser brevemente oferecido.
É natural que a questão da periodização de uma literatura que se aprofunda no tempo venha a se apresentar oportunamente. Provisoriamente, abraçando em linhas gerais os períodos de uma história literária a rigor apenas esboçada, trabalharemos com as categorias de fundadores (até a geração simbolista), modernos (até cerca de 1939), recentes e, por fim, contemporâneos.

O projeto BdR deverá conter, além das resenhas, os ensaios que versam sobre tópicos de importância para o estudo e o conhecimento das letras locais, e os perfis de escritores e poetas com a panorâmica da respectiva obra, além de textos com valor documental, que possam servir de referência para o conhecimento do terreno. Juntamente com as Resenhas, portanto, teremos no BdR os Ensaios, os Perfis e os Documentos – instrumentos a mais, ferramentas a mais, para a edificação do projeto.
Vale deixar inscrita uma palavra a respeito da (digamos) institucionalidade de uma iniciativa que diz com a própria identidade e auto-representação do Estado e de sua gente.

Não seria (perguntariam alguns) o projeto de mapeamento exaustivo das letras locais mediante resenhas algo pertencente à jurisdição das instâncias formais que, em tese, constituem o chamado campo literário? Fácil concordar em que as academias, os departamentos universitários de Letras, as divisões de documentação paranaense, os círculos literários, teriam em tese a vocação para a tarefa. Por que não o fazem é outra pergunta de grande peso e extensão.

Estaremos discutindo, no andamento do projeto, estas e outras possibilidades, que dizem diretamente com a organização deste campo – meta arisca e fugaz condicionada pelas circunstâncias que definem a institucionalidade literária nas periferias dos sistemas.
Será realmente necessário fazer correrem rios de tinta para a construção de um Banco de Resenhas? Uma resposta possível é que a importância de termos uma idéia clara dos recursos acumulados e do caminho já percorrido se faz tanto maior e mais urgente quanto vemos se intensificarem, em nossos dias, as trocas culturais e os projetos de hegemonia implícitos e inerentes às mesmas.

Essa idéia clara de nossas tradições (por conflituosas que sejam as suas diferentes leituras) pode ser decisiva na fixação de metas e rumos e na definição de políticas culturais que favoreçam o desenvolvimento das nossas letras, o que inclui fazer boas escolhas de com quem trocar e com quem aprender.

De modo imediato, o Banco de Resenhas deve ajudar professores e alunos no estudo das letras cultivadas à sombra das Araucárias. Nossa esperança é que este seja o público usuário por excelência do BdR. A todos fica o convite para se somarem ao presente esforço, trazendo sugestões e subsídios.

Jaques Brand e Ricardo Pozzo

Curitiba, 05 11 2023