Amores mais que perfeitos:
Os altos e baixos do primeiro romance de Carlos Augusto da Costa

Romance inaugural ambientado em Curitiba e com cenas em diversas outras cidades do País. O protagonista é um starboy. Devido à morte precoce do pai parece ter se esquivado do complexo de Édipo. A falta de pais próximos é tema recorrente de várias personagens, talvez todos. O efeito da criação das crianças é uma linha subjacente que conduz todo o romance.

A história se desenvolve em uma bem amarrada inversão cronológica em que passado, presente e futuro se entremeiam. Narrativa absorvente e extremamente objetiva. O leitor não vai encontrar descrições detalhadas de pessoas e lugares – o paraíso para os leitores de não-ficção, mas que pode ser desconfortável para o de longos romances.

O ponto de vista é absolutamente masculino. As descrições são pinçadas pelo interesse típico do homem. Isso faz com que o romance tenha promissora aceitação nesse nicho. Costa seria uma antítese de Jane Austen – que elaboradamente relata os relacionamentos da ótica atenta de uma mulher cautelosa e com foco nos detalhes e nas palavras ditas de forma bem pensada pelos personagens. Ao contrário das heroínas de Austen, nosso protagonista, Edu, é desprovido de controle executivo que só se mantém (relativamente) apto à vida social pelo contraponto de seu autoconhecimento e da sua sorte.

Os personagens são analisados do ponto de vista psicológico e não se consegue escapar de uma visão determinista. A forma de criação dos filhos parece ter uma influência mandatória na formação de seus caracteres. Nesse ponto o livro é recheado de pílulas de sabedoria que, mais do que convicções de Edu, parecem ter sido colocadas como mandamentos filosóficos. Esporte, cultura, um modo positivo de encarar a vida e a morte, bem como juízos de valor fixos, dão um caráter moralista à trama.

Capítulo sobre a mãe, no meio do romance, é primoroso. Humano e delicado. Já vale o livro.

O texto tem várias oportunidades para avançar no erotismo, mas como tudo no livro a objetividade supera qualquer tentativa de prolongar uma cena. Oitenta e sete páginas – e apenas uns seis tons de cinza – para serem lidas de um único fôlego, como quem assiste a um bom filme.

A narrativa de todos os personagens poderia ser substituída pelo próprio narrador. Alguns termos de diálogos parecem inadequados. Impossível imaginar a namorada relatando como se deu uma briga com termos como “desferindo vários outros socos”, a menos que fosse uma policial. Erros menores típicos de primeira edição merecem revisão para as edições seguintes.

A trama é pessoal, todos os personagens são da classe média, inexistem considerações sociais ou políticas. Obra original e rica. O enredo é cativante o suficiente para se aguardar a próxima obra do autor.

Bernardo Leopardi Gonçalves Barretto Bastos é procurador do município de Rio Largo, Alagoas. Advogado, engenheiro civil, mestre em engenharia pela PUC-Rio. Ex-procurador do município de São Paulo. Diretor de comunicação da Associação Nacional dos Procuradores Municipais (ANPM).